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DOCUMENTO INTERNO


LENDAS E IDEAL MAÇÓNICO


CONVERGÊNCIAS ?


Caríssimas Senhoras e Caríssimos Senhores, membros do Colóquio,

Amigos!

Fomos há dias convidados pela Comissão Organizadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa a participarmos neste II Colóquio Internacional, que muito nos honra.


Por opção dos meus amigos e irmãos, foi-me solicitado que fosse eu a intervir neste Colóquio com um documento escrito a ser presente para este mesmo momento.


Hesitei pela amplitude do mesmo e até – com franqueza me exponho – pela falta de tempo e de jeito.


Por outro, tendo sido também solicitado a intervir num outro momento, que mais adiante explicarei, fiquei com uma acrescida dificuldade para o fazer.


Assim, teria que tomar opções.


E reconhecendo que não podendo, no momento, intervir num dos painéis, com o tempo e a investigação necessária, ficaríamos – e desde já o nosso renovado agradecimento – com uma intervenção para o final do Colóquio.


Assim, apesar de ausente, quero, antes de mais, felicitar todos os membros do Colóquio Internacional, as equipas, os responsáveis e a prestigiada Instituição que o promove.


A existência destes Colóquios reflectem a renovação das ideias, do conhecimento, da vibração espiritual, para além da grande qualidade dos seus participantes que me pareceram singularmente oportunos e pertinentes. E digo-o porque procurei acompanhar – à distância, naturalmente – as intervenções.


Passemos assim à outra explicação que já urge e que justifica esta ausência.


Como certamente é já do conhecimento, pelas cartas-informativas que foram autorizadas a ser distribuídas pelos intervenientes do Colóquio, a Grande Loja Nacional Portuguesa estará presente no I ENCONTRO com a “Cidade”, com a comunidade.


Trata-se do I ENCONTRO com o exterior que está a ser realizado neste mesmo dia e nesta mesma hora na cidade de Vila Real de Trás-os-Montes.


Esta iniciativa que partiu desta Estrutura Maçónica, marcada há já algum tempo e para a qual foram convidadas diversas personalidades impares desta Cidade, da comunidade e das relações biunívocas que existem entre eles e os seus responsáveis nacionais.


E como já tinha sido assumida a minha presença perante alguns amigos, seria por isso inaceitável que não estivesse presente neste I Encontro.


Mas também creiam que neste belo e interessante Colóquio nos fizemos representar ao mais alto nível.


Tenho, por isso, imenso gosto em dizer-lhe que está entre vós uma das primeiras colunas em que assenta a nossa Grande Loja Nacional Portuguesa.


Creiam, assim, que é com a maior admiração que vos apresento este meu irmão que agora me faz o favor de ler esta breve prancha, para que eu possa transmitir um pouco do meu pensamento sobre o momento de oferecer às senhoras deste Colóquio o nosso sentimento.


Mas ao fazê-lo gostaria que me permitissem contando-vos uma lenda portuguesa que extraí de um conjunto de outras lendas. Tratam-se de histórias tradicionais, ligadas ao sentimento do povo, do povo português. Creio que para além da temática de origem cristã, encontraremos nela muito das temáticas de origem árabe.


E estas lendas não deixam de marcar, profundamente, a nossa cultura, as nossa gentes, a sua vivência – o conhecimento da História de uma nação. Não tive, ao escolher esta lenda, qualquer preocupação a não ser que o meu objectivo final é e será, somente, oferecer esta mensagem às senhoras. Às senhoras que participaram neste Congresso. A todas as senhoras. A todas as mães. A todos os rostos femininos. Elas serão o rosto das imagens de muitas das “santas” deste nosso país: pelo esforço, pelo empenho, pela capacidade de lutar contra a adversidade. É com realismo, com verdade, com coragem que não poderemos deixar de avaliar tantas capacidades adormecidas, fazer inventário, para, finalmente, respondermos à questão de saber se, e como, a Maçonaria será viável com a intervenção feminina.


Não tenho dúvidas, nem receio de afirmar o importante papel da Mulher na nossa sociedade contemporânea e se os maçons o não fizerem terão, um dia, cometido cruéis mutilações.


Mais tarde haverão de ser julgados pelos vindouros para além de ambicionarem uma absolvição de culpas.


Por isso, na medida das minhas possibilidades, para esta tarefa, para além de um esforço árduo para mim; até por me obrigar a meter a foice em seara que poderia ser tida por alheia, dado que sou homem, maçon e um amigo dos meus irmãos.


Mas já há muito me convenci, mal ou bem, mesmo assim, que as senhoras poderiam ajudar a Maçonaria a alcançar elementos úteis para o empreendimento comum. Claro que o hábito de dar testemunho dos trabalhos realizados aconselham-me que neste empreendimento para este Colóquio que se agora encerra, vos proponha, um dia, com a nossa participação activa, dizer-lhes o que julgo e penso sobre esta matéria.


Sem receio e sem quebrar quaisquer dos Landmark que uso e defendo. Porque a reconstituição da Maçonaria terá de abranger todos os intervenientes da nossa História.


Para além disso, a Maçonaria não pode ser hipertrofiada de acontecimentos no feminino e, nos últimos tempos, de ordem activa.

Mas vamos à lenda que vos proponho contar. Trata-se da lenda da Senhora da popa. Passa-se em Alcochete, sede de concelho, comarca do Montijo. É uma vila muito antiga e que foi fundada em 850 a. C. Foi ocupada pelos Suevos, Vândalos e Mouros.


D. João II escolheu esta Vila para a residência de Verão. D. Manuel I nasceu em Alcochete e deu-lhe foral em 1515.


O seu Orago é S. João Baptista.


Alcochete tem a romaria da Nossa Senhora da Atalaia e a festa dos Círios.


Em8 de Setembro e na primeira Segunda-feira de Agosto realiza-se a romaria a Nossa Senhora da Conceição das Matas.


E é pelos meados do século XVIII que vivia em Alcochete, no Distrito de Setúbal uma jovem muito piedosa chamada Conceição.


Todo os pobres das redondezas a conheciam e estimava. Ela era a sua benfeitora. A que se interessava pelos seus problemas. A que tentava minorar-lhes os sofrimentos e suprir-lhes as faltas.


[ ... ]


Os traços aqui esboçados nesta lenda bastarão para concluir no sentido de que numa outra perspectiva, na actual, muitas mais mulheres poderão ser algumas das “santas” de ontem, pelo esforço, pelo empenho, pela capacidade de lutar contra a adversidade pelo seu contributo efectivo e imprescindível na sociedade contemporânea.


Hoje, como ontem, as mulheres podem continuar a ter uma procedência remota.


O sentido de santidade atribuído procura quebrar a tentação e o pecado das primeiras narrações do Génesis, para além de modelos do Antigo Testamento, da Grécia e de Roma que fazem alusões pouco favoráveis à Mulher.


O que parece realmente estar implícito na mulher é a sua incapacidade de resistir às investidas a às paixões.


Obras da corte mostram-nos o sentimental, as galanterias e a finalidade de uma satisfação pessoal do homem. Mas os vícios da mulher entusiasmam os príncipes, os tratados, as obras.


Homens e mulheres procuram na sua própria essência da moralidade os seus próprios códigos de conduta.


E é aqui que a Maçonaria pode ter um dos seus maiores papéis na História humana.


Ontem, como hoje, os valores maçónicos ajudam-nos a prescrever mas, fundamentalmente, a vivermos, cada um de nós com a maior intensidade os nosso ideais em que acreditamos.


E aqui julgo poder fazer o reencontro ou a convergência entre a lenda e o ideal maçónico.


Compete às senhoras e senhores membros deste Colóquio tirar a utilidade desta lenda. Colocando o sentido religioso numa outra estrutura e nível; que utilidade podemos retirar da lenda?


Mas nenhuma matéria pode reflectir melhor – para além da literatura - o que uma lenda pode arrastar do espírito da sociedade e, em particular, de cada individuo.


Refiro-me às ideias ou estereótipos, de ancestrais raízes na coincidência de um povo e que suscitam determinados sentimentos e atitudes.


Um legado cultural que, moldado por experiências pessoais, acaba por ter uma expressão individual e colectiva.


Mas esta resposta à mulher e num período como o século XVIII que também é propicio em manifestações anti-feministas e, sobretudo, com uma baixa estima ou degradação feminina.


Então, que ideia se tem da mulher? Que convicções? Que sentimentos suscitam? Que reacções individuais e sociais despertam? Que capacidades? Que grau de exigência alcançam?


Como curiosidade, permitam-me ainda referir que a suposta palavra mulher surgiu de maneira intencionada, para dar o nome a essa condição de mulher:


“ A mulher é mole e terna, donde por isso em latim se chama mulier, que quer dizer mole”.

(Fray Martín de Córdoba, Jardín de nobles doncellas, Colección Joyas Bibliográficas, p. 16


Um outro factor tem a ver com o pecado.


A tentação e o pecado são vínculos indissociáveis da Mulher.


Recordemos algumas orientações de uma outra época, como Calila e Dimna y Sendebar, obras anónimas de inspiração e “ O espelho dos leigos”, o livro dos exemplos.


Por isso, cabe-lhe a si aderir à rotina aceite e estabelecida ou, se porventura esta lenda o ajudar constituir-se como um ponto disponível para um estudo mais profundo que agora me limitei abordar.


Ao homem que, desde sempre, definiu a Mulher como virtuosa ou má mulher própria de um quadro de valores que ajudou a formar deve, agora, reflectir sobre esse passado de referências.


Aos maçons cabe-lhes, fundamentalmente, o papel do esclarecimento e de, posteriormente, permitir à mulher desenvolver os seus próprios quadros e referências. Da nossa parte contem com a total disponibilidade.


Por último, não seria justo nem legal se não os informasse da gratidão que tive em ler um livro: Lendas de Portugal de Gentil Marques, publicado pela Editora Âncora e donde retirei a referida lenda que vos foi apresentada.


Para terminar queiram, simbolicamente, cada um dos meus amigos receber o meu terno e abraço amigo, fraterno e sincero daquele que estará sempre à vossa disposição.


A Oriente de Portugal, 14 de Junho de 2000

Um Mestre Maçon da Grande Loja Nacional Portuguesa,

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